JOSÉ CARLOS STURZA DE MORAES *
Sou branco, tenho três filhos, e só consegui chegar ao ensino superior com mais de 30 anos. Minha mãe, vinda do Interior, penou bastante para me criar, pois não tinha muitas condições financeiras, trabalhando como camareira e faxineira (profissão que teve até se aposentar). Fiquei em muitas casas, mas sempre tive o que comer e vestir.
Hoje, sou um dos milhares de alunos da UFRGS. Não precisei de cotas para ingressar. E tudo isso, motivo de orgulho e auto-estima para muitos, também o é para mim.
Agora vêm alguns com essa coisa de cotas. Cotas para que? Para quem? Para os negros e índios. Pois bem, estando lá dentro da universidade, sou forçado a concordar porque na UFRGS quase não existem negros estudando e, no meu curso, depois de ter estudado com mais de 400 colegas diferentes, testemunho o fato de só conhecer uns oito negros, dos quais metade são estrangeiros (que vêm graças a acordos de cooperação entre universidades). Além disso, até hoje, só conheci um professor negro na UFRGS e não é daqui. É de Cabo Verde.
Também vim de baixo, como dizem muitos dos contrários às cotas, e não estou por cima, mas quero um mundo melhor para todos. Para que meus filhos cresçam com menos violência e exclusão. E, por isso, sou a favor das cotas. Sou a favor de que a população mais segregada e excluída tenha acesso diferenciado à universidade. Nós, os brancos pobres já lutamos por isso por séculos.
Agora fico feliz que ao invés do ódio racial, pelas atrocidades porque passaram os negros neste país, que nunca lhes foi "mãe gentil", estes busquem um lugar ao sol pela educação e não pela violência. Se lembrarmos das décadas de 60 e 70, quando o temor da classe média era simbolizado "pelo dia que descer o morro", hoje, assistir a luta pela educação protagonizada pelos negros é algo surpreendente, positivo e útil para este início de século.
Ser branco não autoriza, nem desautoriza, o apoio ou a repulsa às cotas. Eu me posiciono a favor. Sei que isso não tirará nenhuma chance de meus filhos, no futuro, serem alunos, até porque - e cada vez mais - estaremos todos (e agora também os negros com mais voz) lutando por um ensino de qualidade. Pois é isso que já se sabe de todas as universidades que implementaram a política de cotas no Brasil: quem entra fica, e com excelentes notas. Racismo é não apoiar a luta de quem o sofre!
* Acadêmico de Ciências Sociais - UFRGS
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